Viajar pela Suíça é como montar um quebra-cabeça em que cada peça é mais bonita que a outra — e escolher quais cidades visitar exige priorizar sem abrir mão da essência. Foi assim que, mesmo com vontade de explorar tudo, optamos por dedicar apenas um dia completo a Lucerna, para conseguir incluir no roteiro outras paisagens marcantes como Grindelwald, Lauterbrunnen, Interlaken, Engelberg e o Monte Titlis.
Com pouco tempo e muita curiosidade, nos propusemos a viver Lucerna com intensidade — e conseguimos. A cidade nos recebeu com história, arquitetura preservada, vistas deslumbrantes e aquele charme único que só lugares antigos e bem cuidados conseguem oferecer.
Amanhecer com história: Igreja de São Leodegar
Nosso dia em Lucerna começou cedo, em 17 de dezembro, com um frio cortante, mas um céu perfeitamente limpo. Do nosso Airbnb, a primeira imagem do dia foi a silhueta elegante da Igreja de São Leodegar (Hofkirche St. Leodegar), emoldurada pela luz do amanhecer.
A igreja é um dos edifícios religiosos mais importantes da cidade. Foi construída entre 1633 e 1639, no local de um antigo mosteiro beneditino, e combina elementos renascentistas com duas torres góticas do século XVI que sobreviveram a um incêndio. A fachada sóbria esconde um interior ricamente decorado, refletindo a tradição católica da região.
Do pátio da igreja, o cenário era de tirar o fôlego: Lucerna se estendia suavemente em direção ao lago, com os Alpes ao fundo cobertos de neve. A visão transmite uma sensação difícil de descrever — algo entre paz, reverência e pura admiração.
Nosso roteiro de 1 dia em Lucerna
Com um dia para explorar, optamos por caminhar por Lucerna e conhecer a cidade a pé — e essa decisão nos permitiu apreciar ainda mais os detalhes e a atmosfera do lugar.
Margens do Lago de Lucerna
Iniciamos a manhã caminhando às margens do Lago de Lucerna (Vierwaldstättersee). Este lago de águas cristalinas é um dos mais belos da Suíça e desempenha um papel histórico importante, ligado à fundação da Confederação Suíça. Suas margens oferecem vistas abertas das montanhas, como o Monte Pilatus e o Rigi, e refletem o céu com uma tranquilidade que convida à contemplação.
Kapellbrücke (Ponte da Capela)
Seguimos para a Kapellbrücke, um dos marcos mais icônicos da Suíça. Construída em 1333, é uma das pontes de madeira cobertas mais antigas da Europa. Em seu interior, estão expostas pinturas do século XVII que retratam momentos importantes da história de Lucerna e lendas locais. A ponte conecta o centro antigo ao moderno e fica ao lado da Wasserturm, a “Torre d’Água”, que já serviu como prisão e arquivo.
Embora parte da ponte tenha sido reconstruída após um incêndio em 1993, sua importância histórica e simbólica permanece intacta. Caminhar por ela é atravessar séculos de história suíça em poucos minutos.
Muralha de Lucerna e as Nove Torres (Museggmauer)
A próxima parada foi a Museggmauer, a muralha medieval da cidade, construída no final do século XIV. Originalmente feita para proteção, hoje ela é uma das estruturas defensivas mais bem preservadas da Suíça. Das nove torres originais, algumas estão abertas à visitação, como a Zytturm, que abriga um antigo relógio de 1535 — um dos primeiros da cidade.
Do alto das torres, tivemos uma vista ampla de Lucerna, do lago e das montanhas ao redor. É um passeio que mistura história, panorama e silêncio — uma das experiências mais marcantes do dia.
Monumento do Leão (Löwendenkmal)
No final da tarde, visitamos o Monumento do Leão, também conhecido como Leão Moribundo de Lucerna. A escultura foi talhada diretamente em uma rocha em 1821, em homenagem aos guardas suíços mortos durante a Revolução Francesa em 1792, enquanto defendiam o Palácio das Tulherias em Paris.
A imagem do leão agonizante, deitado sobre um escudo com a flor de lis, é profundamente comovente. O escritor Mark Twain descreveu a obra como “o pedaço de pedra mais triste e tocante do mundo” — e não há exagero. O lugar convida à reflexão e à quietude.
Fontes de água potável: tradição viva nas ruas
Durante todo o passeio, nos deparamos com várias fontes públicas espalhadas pela cidade, muitas delas ornamentadas com esculturas coloridas e símbolos históricos. Inicialmente, ficamos receosos de beber — ninguém quer arriscar a saúde durante uma viagem. Mas, depois de confirmar que a água é potável, pura e segura, nos rendemos.
Bebemos água direto da rua, como os moradores locais, e registramos esse momento em fotos. É uma daquelas pequenas experiências que demonstram a eficiência e o cuidado com o bem público, tão característicos da Suíça.
As vielas e mercados: Lucerna além dos cartões-postais
Entre as atrações mais conhecidas, o que mais nos encantou foi simplesmente caminhar pelas vielas do centro histórico. As fachadas coloridas, os afrescos pintados nas paredes, as janelas floridas e os pequenos detalhes arquitetônicos tornam o passeio uma verdadeira imersão cultural. A cada esquina, surgem lojinhas locais, padarias com doces típicos, lojas de queijos e vinhos, livrarias independentes e boutiques elegantes — tudo com aquele ar europeu acolhedor.
No mês de dezembro, feiras ao ar livre tomam conta de algumas ruas e praças, com barracas de artesanato, produtos locais, enfeites natalinos e comidas tradicionais. O ambiente é festivo, mas sem perder a delicadeza suíça: tudo organizado, iluminado e com cheiro de especiarias no ar. Caminhar por esses espaços foi uma forma de viver o cotidiano local com um toque de magia de fim de ano.
Conclusão: Lucerna em 1 dia vale (muito) a pena
Mesmo com apenas um dia completo para explorar a cidade, Lucerna nos proporcionou uma verdadeira imersão na história e na beleza suíça. A cidade é compacta, bem estruturada e rica em cultura — o que permite conhecê-la bem, mesmo em pouco tempo.
Se o seu roteiro pela Suíça inclui destinos como Grindelwald, Lauterbrunnen, Interlaken, Engelberg ou o Monte Titlis, não hesite em encaixar Lucerna, mesmo que por um único dia. Com os pés nas ruas de pedra e os olhos voltados para os Alpes, você certamente levará Lucerna na memória — e talvez com a vontade de voltar com mais tempo.
